segunda-feira, 29 de outubro de 2012

CHAMEM O POETA


Algum mal nos afeta?
Chamem o poeta.
Está torta a reta?
Chamem o poeta.
Não se alcança a meta?
Chamam o poeta.
Querem desvirtuar o asteca?
Chamem o poeta.
A multidão se inquieta?
Chamem o poeta.
A plateia é seleta?
Chamem o poeta.
Algum mal nos afeta?
Chamem o poeta.
O governo decreta?
Chamem o poeta.
A conta é secreta?
Chamem o poeta.
A dama é discreta?
Chamem o poeta.
O ator não interpreta?
Chamem o poeta.
O corrupto se locupleta?
Chamem o poeta.
Não adiantou a dieta?
Chamem o poeta.
Ninguém segue a seta?
Chamem o poeta.
O avô renega a neta?
Chamem o poeta.
O menino caiu da bicicleta?
Chamem o poeta.
Conflito burguês X proleta?
Chamem o poeta.
O lixeiro não faz coleta?
Chamem o poeta.
Não sai a eleição direta?
Chamem o poeta.
Chamem o poeta.
Se um for pouco
chamem um enxame.
Não importa que mais chamem
do que amem o poeta.
Chamem o poeta!
Chamem o poeta!

CAMARGO, Dilan. In: Antologia do Sul, poetas contemporâneos do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, 2001.

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