segunda-feira, 22 de outubro de 2012

E POR FALAR EM CULTURA...



Culturalmente, somos uma nação bastante privilegiada, pois podemos nos considerar imensamente ricos em manifestações culturais, diversidade que devemos às influências e/ou contribuições recebidas dos índios, que aqui viviam antes da chegada do europeu, povo do qual também recebemos parte dessas influências, e por fim dos africanos que por aqui passaram, povos tão importantes para a construção de nossa cultura e tradições, de forma que fica impossível falar de cultura sem mencioná-los.
Sabe-se que as influências desses povos foram muitas, as quais se apresentam no nosso cotidiano através dos hábitos e costumes, o que contribuiu para o enriquecimento de nossa culinária, vocabulário, dança, música, vestuário, etc.
Musicalmente, podemos citar a riqueza do nosso Carnaval, manifestação popular onde percebemos, claramente, a influência do indígena e africana nas danças, vestimentas, alimentos, mas também do europeu; lembremos dos nossos bailes de máscaras.
Ao abordar a música, em particular, o faço porque pretendo discutir um pouco a respeito de como tem se dado a apropriação cultural por parte da população brasileira, e sendo a música um manifesto de fácil acesso e assimilação, nada melhor que fazer menção à mesma no contexto atual.
Atualmente encontramo-nos bombardeados por produções musicais de qualidade duvidosa, as quais em sua grande maioria fazem apologia à prostituição, ao uso de drogas, à violência, entre outras questões, o que resulta em deturpações de valores morais tão necessários para uma boa convivência social.
Diariamente, ao ouvir tais produções, as quais mesmo sem querer somos obrigados a ouvir, tendo em vista sua reprodução em quaisquer áreas de grande circulação de pessoas, percebemos o estágio de decadência cultural na qual se encontra nossa sociedade, o que torna as novas gerações cada vez mais alheia, dependente e sem expectativas de futuro, ou mesmo detentores de atos de violência ou mesmo de promiscuidades.
Costumamos ouvir que o fato da popularidade abusiva de tais produções se dá mediante a classe social na qual se encontra inserida a maioria da população, o que nos leva a pensar que “pobreza remete a mau gosto”, mas refletindo por outro lado, vemos que não podemos generalizar tal fato, pois muitas vezes encontramos crianças, estas, vítimas de um contexto social que não lhes favorece a apropriação de manifestos culturais de melhor qualidade, mas que mesmo assim conseguem desmistificar tal afirmação, pois quando em contato direto com melhores produções culturais, percebem a qualidade que as mesmas tem, porém faz-se necessário que às mesmas sejam ofertados e garantidos os acessos à tão importante e necessária formação cultural.
Ao longo dos anos, enquanto seres históricos e sociais, vimos buscando o conhecimento, na intenção de possibilitar melhor compreensão do nosso passado para a construção de um futuro mais promissor, porém vemo-nos impedidos de fazê-lo, mediante o fato de que a nossa sociedade se mostra sem o menor empenho para tal conquista, pois se tenta despertar o resgate dos preceitos morais, assim como também o estímulo à construção de uma ideologia, mas cotidianamente as ofertas, principalmente as midiáticas, direcionam a população, principalmente as crianças, para despertar nestas, a sexualidade precoce, assim como do consumo de drogas, ou mesmo a inserção no universo da prostituição.
Pensemos: Se ao cidadão cabe-lhe o direito à educação e à cultura, como devem os poderes públicos atuarem para tal conquista, tendo em vista que atualmente resolveram apenas mostrar-se “assistencialistas”, sem quaisquer cobranças, deixando a população cada vez mais cômoda sem iniciativas para uma participação mais ativa na construção da história da nação?
Dia desses, ouvindo uma canção de Noel Rosa em parceria com Vadico, intitulada “Feitio de Oração”, fiquei a refletir em torno do verso “Quem acha vive se perdendo...”, e percebi que infelizmente assim tem vivido a sociedade brasileira, esperando sempre pelas esmolas oferecidas pelos poderes públicos, que intrinsecamente, tem como objetivo mantê-la formada por indivíduos ignorantes e dependentes enquanto cidadãos ou mesmo escravos do sistema.
Dizem que a partir de 1888 o Brasil tornou-se livre da ideia de escravidão, será mesmo? Como podemos declarar a sociedade brasileira livre, se esta ainda se encontra presa à ignorância e à falta de expectativas?
Precisamos encontrar o caminho para a conquista de uma nação melhor, sabemos que a educação é parte desse caminho, mas é necessário que não apenas os professores e/ou profissionais de educação trabalhem em prol desta conquista, mas também que a sociedade como um todo se conscientize do direito que tem a uma vida com mais conforto.
Dizemos sempre que as crianças de hoje são o futuro de amanhã, mas que futuro teremos com alguém que não tem ideologias ou mesmo se encontra culturalmente vazio?
Brasil, precisamos acordar antes que seja tarde, pois não se constrói uma nação à base de cidadãos presos à comodidade, à inércia, à ignorância e/ou mesmo a um sistema social completamente capitalista, assim, mostremos que juntos somos capazes de contrariar o verso de Noel, ou seja, achar sem se que isso nos leve à perdição.


(Marcos Santos de Souza – 21/10/2012)

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