Culturalmente,
somos uma nação bastante privilegiada, pois podemos nos considerar
imensamente ricos em manifestações culturais, diversidade que
devemos às influências e/ou contribuições recebidas dos índios,
que aqui viviam antes da chegada do europeu, povo do qual também
recebemos parte dessas influências, e por fim dos africanos que por
aqui passaram, povos tão importantes para a construção de nossa
cultura e tradições, de forma que fica impossível falar de cultura
sem mencioná-los.
Sabe-se
que as influências desses povos foram muitas, as quais se apresentam
no nosso cotidiano através dos hábitos e costumes, o que contribuiu
para o enriquecimento de nossa culinária, vocabulário, dança,
música, vestuário, etc.
Musicalmente,
podemos citar a riqueza do nosso Carnaval, manifestação popular
onde percebemos, claramente, a influência do indígena e africana
nas danças, vestimentas, alimentos, mas também do europeu;
lembremos dos nossos bailes de máscaras.
Ao
abordar a música, em particular, o faço porque pretendo discutir um
pouco a respeito de como tem se dado a apropriação cultural por
parte da população brasileira, e sendo a música um manifesto de
fácil acesso e assimilação, nada melhor que fazer menção à
mesma no contexto atual.
Atualmente
encontramo-nos bombardeados por produções musicais de qualidade
duvidosa, as quais em sua grande maioria fazem apologia à
prostituição, ao uso de drogas, à violência, entre outras
questões, o que resulta em deturpações de valores morais tão
necessários para uma boa convivência social.
Diariamente,
ao ouvir tais produções, as quais mesmo sem querer somos obrigados
a ouvir, tendo em vista sua reprodução em quaisquer áreas de
grande circulação de pessoas, percebemos o estágio de decadência
cultural na qual se encontra nossa sociedade, o que torna as novas
gerações cada vez mais alheia, dependente e sem expectativas de
futuro, ou mesmo detentores de atos de violência ou mesmo de
promiscuidades.
Costumamos
ouvir que o fato da popularidade abusiva de tais produções se dá
mediante a classe social na qual se encontra inserida a maioria da
população, o que nos leva a pensar que “pobreza remete a mau
gosto”, mas refletindo por outro lado, vemos que não podemos
generalizar tal fato, pois muitas vezes encontramos crianças, estas,
vítimas de um contexto social que não lhes favorece a apropriação
de manifestos culturais de melhor qualidade, mas que mesmo assim
conseguem desmistificar tal afirmação, pois quando em contato
direto com melhores produções culturais, percebem a qualidade que
as mesmas tem, porém faz-se necessário que às mesmas sejam
ofertados e garantidos os acessos à tão importante e necessária
formação cultural.
Ao
longo dos anos, enquanto seres históricos e sociais, vimos buscando
o conhecimento, na intenção de possibilitar melhor compreensão do
nosso passado para a construção de um futuro mais promissor, porém
vemo-nos impedidos de fazê-lo, mediante o fato de que a nossa
sociedade se mostra sem o menor empenho para tal conquista, pois se
tenta despertar o resgate dos preceitos morais, assim como também o
estímulo à construção de uma ideologia, mas cotidianamente as
ofertas, principalmente as midiáticas, direcionam a população,
principalmente as crianças, para despertar nestas, a sexualidade
precoce, assim como do consumo de drogas, ou mesmo a inserção no
universo da prostituição.
Pensemos:
Se ao cidadão cabe-lhe o direito à educação e à cultura, como
devem os poderes públicos atuarem para tal conquista, tendo em vista
que atualmente resolveram apenas mostrar-se “assistencialistas”,
sem quaisquer cobranças, deixando a população cada vez mais cômoda
sem iniciativas para uma participação mais ativa na construção da
história da nação?
Dia
desses, ouvindo uma canção de Noel Rosa em parceria com Vadico,
intitulada “Feitio de Oração”, fiquei a refletir em torno do
verso “Quem acha vive se perdendo...”, e percebi que infelizmente
assim tem vivido a sociedade brasileira, esperando sempre pelas
esmolas oferecidas pelos poderes públicos, que intrinsecamente, tem
como objetivo mantê-la formada por indivíduos ignorantes e
dependentes enquanto cidadãos ou mesmo escravos do sistema.
Dizem
que a partir de 1888 o Brasil tornou-se livre da ideia de escravidão,
será mesmo? Como podemos declarar a sociedade brasileira livre, se
esta ainda se encontra presa à ignorância e à falta de
expectativas?
Precisamos
encontrar o caminho para a conquista de uma nação melhor, sabemos
que a educação é parte desse caminho, mas é necessário que não
apenas os professores e/ou profissionais de educação trabalhem em
prol desta conquista, mas também que a sociedade como um todo se
conscientize do direito que tem a uma vida com mais conforto.
Dizemos
sempre que as crianças de hoje são o futuro de amanhã, mas que
futuro teremos com alguém que não tem ideologias ou mesmo se
encontra culturalmente vazio?
Brasil,
precisamos acordar antes que seja tarde, pois não se constrói uma
nação à base de cidadãos presos à comodidade, à inércia, à
ignorância e/ou mesmo a um sistema social completamente capitalista,
assim, mostremos que juntos somos capazes de contrariar o verso de
Noel, ou seja, achar sem se que isso nos leve à perdição.
(Marcos
Santos de Souza – 21/10/2012)